Voçe não pode mais impor suas vontades sobre mim

Você não pode mais impor sua vontade sobre mim. Sua teia de mentiras é demasiado venenosa, e eu já não faço mais parte dela.


Eu não posso localizar o momento exato em que aconteceu. Pode ter sido o momento em que meus olhos ainda estavam cravados em você, ou quando eu já não podia mais fixá-los em lugar algum.
Eu tentei. Tentei limpar minha visão a ponto de quase destruí-la.
E quando eu pensei ter finalmente conseguido, você não estava lá.
O “tarde demais” estava em seu lugar. E não importasse onde eu olhava, ou o tempo em que olhava, jamais foi igual. Nem mesmo eu fui igual.
Existiam momentos, em que eu fazia muito esforço para bani-la dos meus pensamentos, o que era inútil, porque naquele tempo, tudo o que eu via era você. Você era a única coisa que existia em mim.
E por mais que eu tentasse, eu não me enganava. Sabia que no momento em que meus olhos deixassem os seus, seria impossível ver qualquer superfície sólida o bastante que me desse o mínimo de equilíbrio para seguir sozinho. E assim seria por muito tempo, até que por acaso meus olhos tomassem os seus novamente. E assim aconteceu.
No momento em que eu senti minha visão ficar turva, eu perdi seus olhos, e simultaneamente, tudo se perdeu.
Doeu. Doeu por tanto tempo que eu nem sou capaz de dizer.
Eu tentava, tentava me aproximar, e fixar novamente meus olhos nos seus, mas cada centímetro mais perto da vida, machucava. Então, eu observava cegamente, satisfeito por ser capaz de aproximar minha visão, o bastante para não me machucar. Ou ferir a nós dois. E talvez, se ficasse tanto tempo sem ver, eu finalmente não pudesse mais lembrar de como era.
Hoje eu não me atrevo a fixar o olhar em lugar algum. Verdadeiramente, não sou mais capaz. É tudo demasiado nebuloso agora, impossibilitando-me de ver.
Eu passei tanto tempo vendo, que era impossível ouvir. Por isso talvez eu não tenha sido capaz de saber quando você disse que ia embora. E eu sequer sei se de fato, você disse. Eu só fui capaz de ver, sem som algum, seus olhos se esvaindo dos meus.
E agora, temo que em breve você também vá embora do que ainda existe em mim. Não é muito, mas basta para segurar você. Ainda.
Algumas coisas mudaram. Agora eu sou capaz de ouvir. Não passa de um murmúrio distante, no entanto é mais do que eu sempre tive.
Às vezes eu juro que posso ouvi-la, distante, muito distante. Mas não posso ter mais do que uma percepção. Afinal, nunca soube como era te ouvir, além de ver.
Eu quero chegar perto. Perto o bastante para poder ouvir apenas você, sem essa confusão de vozes que perturbam uma percepção mais aguçada.
Mas tenho medo. Medo de que, ainda que eu possa tê-la, apenas te ouvindo, eu não seja capaz de encontrar seus olhos. Te ver. Indo embora. Novamente.

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